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Entenda o que é consumo conspícuo e o seu perigo para a vida financeira

De fato, já há muito tempo, ostentação e consumismo andam de mãos dadas. Afinal, para exibir o luxo que supostamente as rodeia, as pessoas costumam investir quantias que muitas vezes são superiores a suas reais possibilidades financeiras.

Desse comportamento exibicionista brotam outros, como a compulsão por compras, a inadimplência, o narcisismo ou egocentrismo e assim por diante. Tudo isso pode evoluir para quadros de doenças psicológicas.

Consumo conspícuo é uma das formas que economistas e outros estudiosos usam para se referir à boa e velha “ostentação”, quando levada às últimas consequências.

A palavra “conspícuo” significa, conforme o dicionário, “algo que chama a atenção”. Então, já podemos inferir que “consumo conspícuo” é um tipo de consumo que não tem, como objetivo, satisfazer alguma necessidade concreta e objetiva; mas sim “chamar a atenção dos outros”.

Consumo conspícuo ou consumo ostentatório é um termo usado para descrever os gastos em bens e serviços adquiridos principalmente com o propósito de mostrar riqueza. Na mente do consumidor conspícuo, tal exibição serve como meio para ter ou manter um status social perante um grupo social, que determina socialmente objetos e bens, como uma classificação de um status mais elevado ou mais baixo por conta dessas respectivas aquisições, determinando assim uma classificação social com base em bens adquiridos e exibidos.

A ostentação (do latim "ostentare" que significa "mostrar") é o ato de, com muito excesso e orgulho, exibir realizações, posses ou habilidades de si próprio, com vaidade e pompa, bens, direitos ou outra propriedade, normalmente fazendo referência à necessidade de mostrar luxo ou riqueza.

A ostentação se configura pelo ato de enfatizar uma falsa realidade. Enquanto isso, o consumismo consiste no ato de comprar compulsivamente. Para entender melhor a relação entre esses conceitos, é preciso observá-los de maneira isolada.

Por um lado, a ostentação é um comportamento que não necessariamente demanda o consumo exagerado de qualquer coisa, mas somente a exibição de algo — que pode inclusive nem ter sido comprado pela pessoa que ostenta, mas pertencer a outra, por exemplo.

Por outro lado, o consumismo pode sim estimular a ostentação. No entanto, à semelhança do outro termo, o comportamento de consumo exagerado subsiste por si só. Por essa razão, nem sempre tem relação direta com o exibicionismo desnecessário.

Apesar da distância semântica entre os termos, na prática, quando eles se unem, influenciam a construção de estereótipos marcados pelo excesso, pelo descontrole e pelo total desinteresse por um estilo de vida modesto e discreto.

Especialmente no Brasil, o desejo que algumas pessoas têm de ostentar por meio do consumo encontra muitos empecilhos na alta carga tributária nacional, fator que obriga consumistas a se sacrificarem ainda mais para custear a imagem que idealizam.

A motivação do consumo conspícuo não é, portanto, a utilidade (no sentido econômico) daquele bem ou serviço, mas sim o potencial que ele tem de chamar a atenção (positivamente, esperamos) das outras pessoas sobre nós.

Aliás, pelo contrário, quanto menos utilidade um bem tem, mais “conspícuo” ele é, pois, ao comprá-lo, estamos comunicando ao mundo que temos dinheiro sobrando e compramos qualquer porcaria, simplesmente, porque “a gente pode”.







Conheça os objetivos mais comuns do consumo conspícuo estão:


Sinalização: No sentido econômico, “sinalizar” significa usar símbolos e sinais (daí o nome) para reduzir a assimetria de informação. Quando não conhecemos uma pessoa (ou seja, não temos informação sobre ela – o que gera a assimetria), acabamos recorrendo a sinais externos para fazer um julgamento, como as roupas que ela veste, o carro que ela dirige etc.

Afirmação de status e de posição: O status social tem um caráter relativo e competitivo, no sentido de que, para se ter um alto status, é preciso que outras pessoas tenham seus status rebaixados. O consumo conspícuo, na linha do “meu iate é maior que o seu”, serve como ferramenta para fazer esse rebaixamento.

Provocar inveja: A inveja é uma emoção curiosa e pouco compreendida. A maioria das pessoas gostam (ainda que não admita) de causar inveja nas outras, mas elas mesmas acabam confundindo inveja (que é uma emoção negativa) com admiração (que é uma emoção positiva). Admiração é o mais próximo que existe de uma “inveja boa” e é válido querer ser admirado. Mas muitas pessoas não sabem distinguir essas emoções e se contentam em gerar inveja (que, ao contrário da admiração, é negativa e gera ressentimento).

Alívio de distúrbios psicológicos: O consumo conspícuo pode acabar se revelando o canal ideal para o extravasamento de questões psicológicas como compulsões, narcisismo patológico e comportamentos antissociais com traços de psicopatia, como aquela ostentação agressiva e deliberada (que vemos em alguns indivíduos), que indicam que a pessoa tem “raiva do mundo” (às vezes raiva de sua própria origem humilde, quando é o caso) e sente prazer em “pisotear” pessoas de status socioeconômico inferior. Neste último caso, a pessoa está deliberadamente querendo causar inveja (sem fazer qualquer confusão com admiração) e gerar ressentimento.

Impacto ambiental: Também é importante ressaltar que o consumo conspícuo tem grande impacto ambiental e é antagonista da sustentabilidade, pois induz a desmedida exploração de recursos naturais para alimentar a produção de bens supérfluos. Com essa necessidade em obter objetos que utilizam o meio ambiente como fonte para sua produção, todo o mercado de produção intensificou-se para satisfazer tal modo de consumo, tendo implicações em diferentes atividades sociais, no surgimento de mais profissões especializadas para a contínua realização do consumo. Mesmo sendo prejudicial ao meio-ambiente, temos o ponto de que o consumo de certa maneira influencia também na economia, mas de maneira positiva, já que, a partir do momento em que as pessoas adquirem (compram), isso gera um crescimento financeiro.

O conceito de consumo conspícuo veio do economista e sociólogo americano Thorstein Veblen, no final do Século XIX, em seu livro A Teoria da Classe do Lazer.

No livro, ele faz uma análise histórica das questões de segregação e separação social. A partir disso, ele faz uma crítica da classe alta de seu tempo, que são as famílias ricas americanas do final do Século XIX, especialmente da região de Nova Iorque e da Nova Inglaterra, que construíram fortuna na chamada “Segunda Revolução Industrial”.

São aquelas famílias que, ocasionalmente, ouvimos os nomes em filmes atuais (como símbolos de riqueza e status daquela região – mas que, na época do livro, eram os “novos-ricos”), que construíam casas com dezenas de cômodos (que, provavelmente, seus moradores nunca sequer colocaram os pés) entre outras coisas.

É interessante notar que a moderna sociedade de consumo (que, supostamente, nasceu no começo do Século XX) já devia estar em “gestação” na época do livro. A tal “moderna sociedade de consumo” cristalizou o papel do consumo não como um meio de satisfação de necessidades, mas sim de formação de identidade pessoal.

Conheça alguns exemplos de consumo conspícuo:

Imóveis: Os imóveis eram, talvez, o que mais chamou a atenção do economista na época de seus estudos. Aquelas famosas mansões da Nova Inglaterra, que eram maiores que palácios reais europeus, onde morava uma família pequena e um batalhão de empregados para cuidar de cômodos que, provavelmente, nunca eram usados. As casas eram feitas, simplesmente, para impressionar por seu porte e complexidade. E para mostrar que seus donos podiam pagar por sua manutenção, mesmo não precisando de todo aquele espaço.

Veículos: Outro caso clássico de consumo conspícuo são os carros de luxo e esportivos. Exceto para aqueles que realmente são aficionados por carros, raramente um carro esporte exótico será usado na plenitude de seu potencial. Pelo contrário, a maioria desses veículos tendem a virar peças estáticas, apenas para admiração dos próprios donos ou, no máximo, dando uma “voltinha” de vez em quando. O uso desse tipo de carro costuma ser limitado e pouco prático (inclusive, a maioria das pessoas ricas tem um ou mais carros “comuns” para as coisas do cotidiano). Mas, novamente, serve para comunicar ao mundo que a pessoa pode ter aquilo, ainda que não sirva para nada e tenha uma manutenção caríssima e complexa.

Alimentos e bebidas: Pratos salpicados com pó de ouro e vinhos de dezenas de milhares de dólares são exemplos de consumo conspícuo no mundo dos alimentos. E é difícil argumentar que esses alimentos e bebidas sejam tão melhores a ponto de justificar os preços. Pelo contrário, a maioria das pessoas “ricas e sofisticadas” é incapaz de distinguir um vinho de milhares de dólares de um vinho barato, que sai de uma caixinha longa vida e que foi comprado em algum mercadinho imundo na periferia de Paris, se ambos forem servidos em copos idênticos e sem identificação.

Joias: As joias são, provavelmente, o símbolo máximo do consumo conspícuo. As joias não têm nenhuma função que não seja “impressionar outras pessoas”. São objetos desprovidos de qualquer utilidade. Roupas caras ainda podem te aquecer; o carro esporte exótico ainda pode ser usado como veículo; a casa imensa ainda mantém sua função de te abrigar; o vinho de milhares de dólares ainda pode ser bebido, mas, e as joias para que elas servem?

De fato, o consumo conspícuo não é o consumo voltado para o próprio prazer e a própria satisfação. É um consumo voltado para competir pela atenção de outras pessoas e para a atender códigos sociais que, em grande parte, não fazem sentido e você sequer sabe de onde vieram.

A pessoa que entra no “buraco negro” da ostentação e do consumo conspícuo se torna uma pessoa reativa. Ela não conduz a própria vida, mas, sim, se deixa conduzir por outras pessoas, sejam seus “concorrentes” em seus círculos sociais ou os famosos “formadores de opinião”, que ditam regras de como as pessoas devem se vestir e que lugares devem frequentar. Está (ainda que não perceba desta forma) constantemente em busca de aprovação e validação de terceiros.

Algum consumo conspícuo pode ser aceitável, mas, em altos níveis, indica que a pessoa não está mais vivendo em seus próprios termos, e sim nos termos de outras pessoas. Ou seja, ela foi escravizada pela própria riqueza.

De fato, o efeito demonstração envolve a situação em que os indivíduos de um estrato social procuram copiar padrões de comportamento de estratos superiores, tentando demonstrar um status que não possuem. O efeito de demonstração é intensamente utilizado na publicidade, sugerindo que bastaria o simples consumo de determinados produtos para ascender na escala social.

De fato, é nítido que o consumo conspícuo gera perigos para a vida financeira, e que o exibicionismo traz consequências financeiras desagradáveis.

Um levantamento feito pelo Serasa identificou que mais de 60 milhões de brasileiros estavam inadimplentes em 2018 e, segundo o SPC, 7 em cada 10 brasileiros deixaram de pagar alguma conta ou atrasaram pagamentos em 2017.

O percentual de famílias com dívidas a vencer atingiu a marca recorde de 78% em julho de 2021 dos lares brasileiros. O aumento em relação a julho de 2021 foi de 6,6 pontos percentuais. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor - Peic, divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo - CNC.

Claro que várias situações são fatores capazes de também aumentar os endividamentos e inadimplências, como por exemplo a economia do país, o desemprego, entre outros. Mas não podemos deixar de ressaltar que a falta de educação financeira, controle e planejamento financeiro são extremamente impactantes para um consumo desenfreado, mediante uma mentalidade, hábitos e costumes movida a ostentação e consumismo que pode levar ao endividamento, inadimplência e negativação.

É notório que muitas pessoas aliam ostentação e consumismo como um estilo de vida, e aderem em suas redes sociais, em eventos e no próprio cotidiano tais comportamentos exibicionistas. Isso não significa que você só deve consumir o básico e buscar ocultar as suas conquistas materiais, ok? Aliás, pelo contrário! Trata-se, na verdade, de um desafio à visão particular sobre o consumo, saúde financeira e padrão de vida, que, apoiada ou não na ostentação e no consumismo, deve ser respeitada tal como é.


Interessante né pessoal?! Entendendo o que é consumo conspícuo e o seu perigo para a vida financeira, fica mais fácil que cada um reflita um pouco sobre a relação entre a ostentação e consumismo, não é mesmo?!





Esperamos que você tenha gostado das nossas dicas!

Atenciosamente,

Equipe do Box Financeiro







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