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Entenda a Aporofobia – Medo e rejeição a pobreza

A aporofobia é um composto pela junção de dois diferentes termos, emprestados da língua grega, e se propõe a identificar uma fobia, um medo, uma patologia social que se manifesta na aversão a alguém que é percebido como portador de determinado atributo, origem, comportamento, aspecto ou traço.

Aporofobia, do grego á-poros, sem recursos, indigente, pobre; e fobos, medo; refere-se ao medo, rejeição, hostilidade e repulsa às pessoas pobres e à pobreza.



As "fobias específicas", são definidas pela OMS - Organização Mundial da Saúde, como "medo ou ansiedade acentuada e excessiva que ocorre constantemente ao se expor ou antecipar a exposição a um ou mais objetos ou situações específicas (por exemplo, proximidade de certos animais, voar de avião, altura, confinamento em espaços, visão de sangue ou ferimentos) que é desproporcional ao perigo real." Os sintomas, devem persistir por vários meses e ser suficientemente graves para causar "uma deterioração significativa nas relações pessoais, familiares, sociais, educacionais, de trabalho ou em outras áreas importantes do funcionamento".

As causas das chamadas fobias específicas podem ser muito variadas. Experiências negativas: Muitas fobias aparecem como consequência de uma experiência negativa ou de um ataque de pânico relacionado a um objeto ou situação específica. Causas genéticas e ambientais: Pode haver uma ligação entre a fobia específica e uma fobia ou ansiedade dos pais do indivíduo, ou seja, houve uma ligação devido a fatores genéticos ou um comportamento aprendido. Função cerebral: Mudanças na atividade cerebral também podem desempenhar um papel no desenvolvimento de fobias específicas.

Uma pessoa que é aporofóbica tem medo da pobreza, repúdio, aversão ou desprezo pelos pobres ou desfavorecidos financeiramente e extrema hostilidade para com pessoas em situação de pobreza ou miséria. É uma pessoa completamente discriminatória, de total antipatia, preconceituosa e desrespeitosa em tudo que faz referência a pobreza e aos pobres.

O termo aporofobia foi usado pela primeira vez em meados dos anos 90 pela filósofa espanhola Adela Cortina, que estuda, entre outros temas, a aversão aos pobres. Tais estudos surgiram inclusive para entender como a aporofobia se enraíza na sociedade e cria uma construção mental que entende pessoas como mais ou menos humanas.

Na xenofobia, que é a aversão ou medo direcionado aos estrangeiros, acontece a aporofobia no fato, da verdadeira "fobia" ser direcionada a rejeição contra os estrangeiros pobres, imigrantes, mendigos, sem-teto, mesmo que sejam da própria família, e não pelos que detêm recurso financeiro ou boa condição de vida e passam a viver em um novo país, como turistas, cantores, celebridades e atletas famosos.

Na homofobia que significa uma aversão irreprimível, repugnância, medo, sentimentos negativos, discriminatórios ou preconceituosos em relação a pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo ou gênero, ódio ou preconceito que algumas pessoas ou grupos nutrem contra os homossexuais, lésbicas, bissexuais, transexuais e população LGBT, também acontece a aporofobia, que é a "fobia" direcionada contra os homossexuais, lésbicas, bissexuais e transexuais pobres e não pelos que detêm recurso financeiro ou boa condição de vida.

Esse preconceito vem aumentando na proporção em que o empobrecimento cresce. Está acontecendo um empobrecimento acelerado, e podemos perceber isso no aumento da população de rua.

Não podemos deixar de comentar que estudos e pesquisas, demonstram claramente que as camadas médias e altas da sociedade brasileira têm dado provas reiteradas de seu ódio de classe, de seu desprezo, de sua repulsa, de seu nojo aos pobres. Assim, qualquer mínimo progresso material que, virtualmente, as classes populares venham a auferir incomoda e gera uma desmedida aversão, principalmente da classe média, que se sente ameaçada e insegura com essa aproximação, que a obriga a coexistir em determinados espaços públicos, com pessoas egressas ou pertencentes às classes populares.

Os estudos mostram o nojo que as classes médias e altas devotam aos pobres aventam que: “Parece possível supor que a reação de indivíduos das camadas médias e altas frente à “invasão” dos espaços sociais por “seres inferiores” se funda também no temor da contaminação pelo Outro inferior, que se caracteriza pela falta: de capital cultural, de (bom) gosto, de maneiras adequadas de se portar e vestir. Talvez sejam essas expressões de nojo parte de uma identidade de classe que se constrói e se mantém em oposição à classe trabalhadora e aos excluídos, uma vez que estes não possuem as condições materiais e culturais de conviver em espaços elitizados”.

Um exemplo eloquente do ódio e do nojo pelos pobres pode ser extraído de um vídeo, que circula há anos no YouTube, retratando a “invasão” das praias da zona sul carioca, nos idos dos anos 80, do século passado, por um grupo de pessoas, moradoras dos subúrbios do Rio de Janeiro, que chegam em ônibus apinhados, para usufruírem de um dia de sol e mar.

No mencionado vídeo desfilam falas de extremo preconceito, repulsa e nojo aos pobres. Uma jovem carioca se sentiu ultrajada pela “invasão” de sua praia: “uns ônibus horrorosos, com pessoas completamente horríveis que saem de dentro dos ônibus e vão lá sujar a praia. É uma gente sem educação mesmo, não pode tirar o pessoal do Meier e do Mangue e levar para ir a Copacabana. Eu não posso conviver com pessoas que não têm o mínimo de educação. É uma gente suja, você olhar para a cara dessas pessoas dá vontade de fugir. Eu tenho horror de olhar para estas pessoas e saber que estão no meu país, um horror, não são brasileiros não, são uma sub-raça”. Outras pessoas ouvidas acham que deveria haver uma demarcação nas praias, impedindo a entrada dos indesejáveis pobres. Outra opina que deveria ser cobrado ingresso dessas pessoas, impedindo-as, assim, de terem acesso à praia, tornando, assim, privativo de “uma elite” aquilo que se situa na esfera pública. Outro diz que está ali na praia para estar com os seus e não para conviver com essa gente mal-educada. Outra sugeri que sejam criados espaços de lazer próximos às comunidades pobres, impedindo, desta forma, que venham invadir sua praia. Portanto, o preconceito de classe e o nojo por outro grupo social, promove uma hierarquização, na qual um dos grupos, no caso o dos pobres, é visto como algo fora do lugar e dotado de inferioridade.

A mídia tem sua parcela considerável de contribuição, por meio de suas novelas e “programas de humor”, na difusão de uma visão depreciativa e grotesca do pobre. Geralmente os personagens pobres são figuras estereotipadas: falam alto e com estardalhaço, mastigam de boca aberta e se vestem de maneira extravagante.

Um programa de “humor” que caricaturava as pessoas das classes populares, com um viés de horror e nojo, era o “Sai de baixo”. Um personagem específico, frequentemente tinha falas cujos finais eram:

· “Eu tenho horror a pobre.”

· “Palco de pobre é terreiro de umbanda. Eu tenho horror a pobre.”

· [Falando sobre bingo] “Senta as véia pobre e abre, tem um sanduíche de mortadela dentro. Aí elas comem enquanto o homem tá cantando as pedras e aí dá uns peidinhos assim de lado. Olha pra minha cara!”

· “Pobre é uma coisa triste. Pobre, quando quer falar bem, ficar pernóstico, coloca mais letra que o necessário […]. E termina com aquela frase que caracteriza, é praticamente um crachá de pobre: ‘Desculpe qualquer coisa.’ Eu tenho horror a pobre!”

· “Um pobre espirrou em cima de mim. Espirro de pobre adora uma aglomeração. Aquilo ali, quando ele espirra em cima de você, vem uma van lotada de bactéria. E são umas bactérias pobres, que fala tudo errado: ‘Vou causar um pobrema naquela criatura.’

· “Isto vai ser uma visão do inferno: um ônibus atochado de bicha pobre. Aquelas bichas com a metade do cabelo descolorido, oxigenado, roendo a unha e aquele futum de deocolônia. Eu tenho horror a bicha pobre.”

De forma clara, o personagem critica modos, cheiros, espirros, associando a escatologia à pobreza, em relação a qual ele sente nojo e horror. O curioso é que, apesar de desqualificar também a linguagem popular, assumindo o lado da linguagem culta, normalmente não utiliza corretamente as normas gramaticais cultas, o que pode representar uma vigilância maior aos “modos” das classes populares e à sua falta de capital cultural.

Muitos outros exemplos poderiam ser explicitados que denotam a aporofobia, mas a lista seria gigantesca.

Com base nos estudos, o nojo também é considerado algo mais forte do que o sentimento, uma emoção, dado o seu enraizamento no contexto social e cultural, que lhe dá sentido e um intenso significado político, por possibilitar criar e manter hierarquias na ordem política e, inclusive, demonstrar superioridade. Ou seja, o nojo tem relação com o posicionamento superior/ inferior de coisas e pessoas. O inferior pode tornar-se, aos olhos do superior, um risco, um perigo de contágio que demonstra uma vulnerabilidade do superior em relação ao inferior provocada pelo medo de contágio, que impõe distanciamento. A experiência de uma presença indesejada, uma proximidade compulsória, pode provocar sentimentos de repulsa, medo de contaminação que podem ser percebidos por meio de expressões faciais.

Discriminação é definida como qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência com base em um motivo prescrito que tenha por objetivo ou efeito anular ou prejudicar o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, dos direitos humanos e liberdades fundamentais na política, econômica, social, cultural ou qualquer outro campo da vida pública. Os fundamentos prescritos no direito internacional para a proibição de discriminação incluem raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou outra, origem nacional ou social, propriedade, nascimento ou outro status.

Preconceitos são uma herança histórica. Da idade média, onde bárbaros, aqueles que não tinham origem grega ou romana, eram vistos como inferiores e escravos. No período vitoriano, as pessoas denominadas pela sociedade como feias eram alvo de preconceito, tidos como “impuros de alma”, castigados, por Deus. Durante a guerra civil americana, os negros eram os alvos de crueldades. Nas décadas de 60 e 70, era o público LGBTQAI+ os antagonizados, e a partir dos anos 80, os refugiados e os pobres são os excluídos.

O nome aporofobia surgiu porque as pessoas precisam dar nomes às coisas para reconhecer que existem e identificá-las; ainda mais se forem fenômenos sociais, não físicos, que não podem ser apontados com o dedo. Nomear a rejeição aos pobres permite-nos tornar visível esta patologia social, investigar as causas e decidir se concordamos que continue a crescer ou se estamos dispostos a desativá-la por nos parecer inadmissível.

Infelizmente, a aporofobia sempre existiu, está nas entranhas do ser humano, é uma tendência universal. O que acontece é que algumas formas de vida e algumas organizações políticas e econômicas promovem a rejeição aos pobres mais do que outras. Se em nossas sociedades o sucesso, o dinheiro, a fama e o aplauso são os valores supremos, é praticamente impossível fazer com que as pessoas tratem todas as pessoas igualmente, reconhecendo-as como iguais.

A aporofobia é um sentimento sempre presente no ser humano, seja familiar, classe social, hierárquico, religiosa, política, construção social, direitos humanos, entre países, cultural, mental, entre outros, segundo os estudiosos. Esse medo do pobre, desrespeito e preconceito faz parte da estrutura de pensamento de muitas pessoas, mas pode ser mudado por meio da educação, conscientização e de tratamentos.


Uma pessoa aporofóbica pode ser tratada de diversas maneiras como:


· Uma educação potencializada com informações adequadas sobre a aporofobia.

· As práticas integrativas e complementares de saúde – PICS, é um tratamento eficaz para a aporofobia.

· A terapia é uma opção que pode descobrir uma causa anteriormente desconhecida para a aporofobia, ou uma origem inconsciente profundamente enterrada que pode ser tratada.

· A hipnoterapia, regressão e hipnose é usada para encontrar uma razão para a aporofobia ou modificar os sentimentos da pessoa em relação ao objeto temido, ajudando a pessoa a enfrentar qualquer situação e outras aplicações.

· Praticar técnicas de relaxamento para aprender a controlar e impedir que a situação assuma o controle.

· É recomendado também a terapia em grupos de apoio financeiros, como acontece como os alcoólicos anônimos e dependentes de drogas. Os grupos de apoio financeiros, ajudam muito as pessoas a cuidarem de qualquer assunto relacionado a problemas e situações financeiras que afetam a saúde financeira.

· A terapia de exposição, é um método no qual o indivíduo é exposto de forma lenta e gradualmente a um cenário de acordo com a situação a ser tratada para uma situação controlada. Com o tempo, isso ajuda a pessoa a desenvolver uma tolerância e a se tornar insensível a uma situação que normalmente aconteceria de forma intensa.


É possível combater a aporofobia, percebendo que ela existe e que não é apenas uma questão econômica, mas a rejeição dos piores colocados em cada situação. Creio que se luta construindo instituições baseadas na igualdade de valor das pessoas, e educando no respeito pela dignidade de todas elas, e não só com palavras, mas também mostrando no dia a dia que nos reconhecemos e nos sentimos igualmente dignos.


Existe um Projeto de Lei 3135/20, que torna crimes os atos violentos praticados contra pessoas pobres, em razão de ódio pela condição de pobreza. A proposta, inclui a circunstância como agravante de crimes no Código Penal (Decreto Lei 2848/40) e tramita na Câmara dos Deputados.


Interessante né pessoal?! Por isso é necessário falar sobre essa patologia e tentar descobrir em que medida a aporofobia está envolvida em nossas vidas. Entendendo a aporofobia, fica mais fácil aprender a cuidar dessa fobia, não é mesmo?!




Esperamos que você tenha gostado das nossas dicas!

Atenciosamente,

Equipe do Box Financeiro



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